terça-feira, abril 10, 2007

O Casino assusta-me. Neste caso o de Lisboa. Assusta-me as pessoas conseguirem ser obsecadas por máquinas coloridas que devoram moedas. Assusta-me quando vejo pessoas mais velhas, com idade para serem meus avós, que em vez de juntarem o dinheiro para viajar ou aproveitar a vida de outro modo, continuam a alimentar um sonho de um dia serem as maquinas a alimentar-lhes o espírito, e não só, com moedas.

Estive a reparar no comportamento daquelas pessoas como uma criança que vai pela primeira vez a uma loja de brinquedos. Sentei-me em frente a uma máquina para perceber e sentir aquele mecanismo. Não o percebi. Desconhecia aquele mundo, sinceramente. E não pretendo saber mais nada sobre ele.

Reparei em cada pessoa, em cada comportamento, em cada estilo, em cada idade, reparei numa dezena de coisas diferentes que se passam naquele lugar. Uma nota de 500€ a sair da carteira ficando exposta na mesa e calculo que por ali deve ter ficado. Contaram-me.

Um casal. Ela de chapéu, calças pretas, com uma pastilha na boca que dava voltas e voltas como se tivesse culpa da neura em que a senhora estava, uma pose torta e tensa, com a perna direita pousada na maquina dele como se fosse o auxilio de todo aquele nervosismo e toques frenéticos na tal maquina. Uma destreza a manuseá-la que me deu a pista certa para concluir que já era tão conhecida como possivelmente as suas próprias mãos. O casal ia trocando palavras naquela orquestra de cores, barulho e ansiedade, e no fim, calculo que depois de saírem a porta do Casino de Lisboa, permaneciam o mesmo casal: ela com o mesmo chapéu, com as mesmas calças pretas e com a mesma pastilha na boca, com a única diferença de que possivelmente iriam com menos dinheiro para casa.