terça-feira, julho 24, 2007

Memórias.

"... dei comigo a pensar que a mente não é bom sítio para se guardar memórias. Misturadas com outras, modificam-se ou desvanecem-se. É preferível uma coisa exterior, com vida própria. Um adulto, uma criança, um animal. Um ser vivo capaz de nos devolver, num relance, uma recordação importante. A cabeça não é de fiar. Transforma o que regista, segundo as suas conveniências. Recriando, rescrevendo, negando por vezes. Até ao ponto de nos sentirmos vazios, principiantes. Afinal tudo nos escapa, tudo se esvai. E o que fica, no fim? Esta ideia errada, mas persuasiva, de que nada existiu realmente. Não há testemunhas da nossa experiência e da nossa coragem. Foi tudo um desperdício e a vida não valeu a pena.
É falso, mas tão convincente que desespera."

Rita Ferro,
Não me contes o fim.