Dizem que comover os seres humanos é difícil, principalmente quando esses seres humanos são do tipo animal mamífero, bípede, bímano, racional e sociável (palavra aplicada unicamente em situações de convívio entre amigos durante a visualização de um jogo de carácter futebolístico) que, pela sua falta de inteligência e pelo dom da palavra (dom da palavra existente quando é para falar mal de seres humanos do sexo feminino), entre outros aspectos, se distingue dos outros seres organizados esplendorosamente e com uma sensibilidade de extrema desenvoltura – as mulheres.
E há coisas peculiares no meio disto tudo, é que continuo com a teoria de que escrever uma coisa verdadeiramente deprimente acabada em mente é muito mais fácil que uma coisa verdadeiramente cómica não acabada em nada, mas na maior parte das vezes as pessoas não acham piada a nada logo mais vale escrever uma coisa verdadeiramente deprimente acabada em mente que faz com que uma pessoa poupe o trabalho.
Ainda estou a reflectir na situação deprimente que aqui vou escrever, estou indecisa entre uma história tipo Romeu & Julieta ou a história da minha vizinha Amélia que vivia com o marido e com outro dentro da casa de banho, até que um dia assaltaram-lhe a casa durante a noite e quando deram conta o homem da casa de banho não conseguiu passar despercebido ao marido e este pediu o divórcio, mas resumindo o assaltante era o 3º homem da vida da Amélia que vivia na despensa e que um dia se revoltou porque dizia que os sapatos de o marido, propriamente dito, cheiravam mal na tal despensa e ele não conseguia suportar o cheiro. Resumindo, o marido pediu o divórcio e o homem da casa de banho fartou-se da Amélia e neste momento anda à procura de outras casas de banho para viver, e a Amélia ficou com o assaltante, que por sua vez era de quem ela gostava mais e acabaram por viver felizes apaixonadamente.
Mas efectivamente ainda estou a ponderar entre outras histórias verdadeiramente deprimentes acabadas em mente. Não sei se escolha entre o Jardineiro e o Electricista ou o Electricista e o Técnico de Prótese Dentária (eu sabia que esta história ainda ia ter lugar num post meu, só estava à espera de a conseguir encaixar). Penso que conseguirei dissertar contando esta história verdadeiramente deprimente acabada em mente em paralelo.
Quando existe na vida determinados tipos de pessoas com as quais privamos e acabamos por conhecer, acabamos por absorver determinadas características que nos acabam por render, ou não. Conheci há uns tempos um Jardineiro de seu nome Cristóvão, que tinha a tendência para encher-me de gafanhotos cada vez que falava, e a palavra para ele (e para mim, que era a pessoa atingida) mais difícil de dizer era o meu nome: Sara. Tendo em conta que acabava por dizer Xara, e o X… era sinónimo de projecção de soluções aquosas de carácter salivar. Devo dizer que isto não era nada agradável, aliás eu odeio chuva e sentir-me cheia de pingos na cara, principalmente sabendo que a chuva era daquele tipo chuva molha parvos. Decidi tomar a maior decisão da minha vida: procurar um ser masculino de extrema inteligência e perspicácia com uma profissão digna e útil, visto que eu nunca iria precisar de um jardineiro, porque os jardineiros são úteis em vivendas e eu vivo num apartamento, e decidi-me então por um electricista! (Este sim, ser-me-ia útil, visto que um electricista é sempre necessário nos lares de todo o país). Fui então, com esta história para a frente. Conheci um electricista, que devo dizer muito conceituado no país (pensava eu que era pelo seu trabalho), e o que mais me impressionou foi a sua capacidade de dizer “prontos”. “Oh Sara, prontos eu sei que…”, “Isto nasce connosco e prontos.”, “Prontos, não é que eu quisesse mas prontos apeteceu-me.”, “Uma mulher que prontos, mudei-lhe a lâmpada e prontos.”, “Peço desculpa, mas prontos, ela pediu.”, “O homem apareceu e prontos.”, “Sabes que eu gosto muito de ti, mas prontos.”, … Situações do género, e eu comecei a pensar nisto e a matutar, a matutar até que um dia recebo uma mensagem a dizer “Sara xabs k eu gxto mt de ti, mx prontux, xo pro mxg e k eu te ksg dixer ixto, max eu kd vou a caxa de mulherx n rexisto.” Oh filho, arranja-se já outro facilmente.
Passado uns tempos, existiu outro electricista na minha vida. E este, devo dizer, que é de se tirar o chapéu, porque é o homem que por minuto consegue dizer o maior número de piropos. Desde:
“Cada vez que mudo uma lâmpada lembro-me de ti, é que tu sim, és a luz que me ilumina.”
Ou então:
“Quando apanho um choque, o meu coração treme e eu arrepio-me, porque faz-me lembrar a sensação de quando te vejo.”
Ou melhor ainda:
“És a luz que brilha no meu coração.”
E é por existirem homens assim que Portugal está recheado de boa gente, e na verdade uma pessoa fica de boca aberta facilmente.
E se pensam que é impossível existir homens para além destes que aqui falei, enganam-se, porque existe ainda um outro ser humano do tipo animal mamífero, bípede, bímano, racional,… que ainda me surpreendeu. Pela positiva esperava eu, mas não.
Este ser humano, o tal Técnico de Prótese Dentária, do tipo animal mamífero, bípede, bímano, racional, … vive sozinho, num apartamento agradável e desprovido de responsabilidades, o homem, não o apartamento. E qual foi o meu espanto que na primeira vez que me aproximei da entrada deste dito lar sinto uma sensação aterradora, e mal entro constato que devo ter observado o maior número de garrafas de cerveja Sagres por metro quadrado, vazias, obviamente. Bem, eu na minha humilde, recatada, despretensiosa, simples e modesta (tudo a significar o mesmo, não sei se perceberam, mas é só para tentar transmitir a verdadeira essência da coisa) tentativa de simpatia decido perguntar “Então o que é o jantar?”. Olha não sei, mas daqui a 15 minutos começa o Porto, que dá na RTP 1, portanto, vê lá o que arranjas para aí. Eu de boca aberta a olhar para aquele ser humano do tipo animal mamífero, bípede, bímano, racional, … só penso “Mas onde eu estou metida?” e após ter pensado isto respiro fundo e respondo um suave OK. Vou para a cozinha onde volto a encontrar o maior número de cervejas Sagres por metro quadrado, vazias obviamente, e decido ir ao frigorífico e lá encontro uns bifes. Passado uns tempos, quando tudo já estava quase pronto, oiço “Está no intervalo, o comer já está feito? Podíamos aproveitar para comer é que estou com a pança vazia.” Ora, ouvir isto de um ser humano do tipo animal mamífero, bípede, bímano, racional,… não é nada a minha cena, mas adiante. Ao que eu respondo “Sim, já está quase, podes ir lavando as mãos e vem comer.”, ao que me responde “Ah eu lavei ainda à bocado.”. OK. Começamos a comer, e começo a ouvir… Nhan Nhan Mmm Nhan Nhan Mmm… Nhack Nhack… Oh não, come de boca aberta. Tirem me daqui! Quero ir para outro mundo rapidamente!
E assim termino as minhas histórias com Uma Coisa Verdadeiramente Deprimente Acabado em Mente com a única certeza de que tudo o que aqui está escrito nunca me aconteceu, mas que há seres humanos do tipo animal mamífero, bípede, bímano, racional,… assim, há!