E o som dum piano a tocar no meio da rua deserta pela noite e pelo frio? É fácil de imaginar…
E o calor de um abraço dado mais que carinhosamente na praia?
Também é fácil de imaginar…
E um livro comprado em branco para que se possa completá-lo?
E a simples ideia de que pensar não é viver, mas viver é pensar?
E olhar para o céu e desejar ter uma estrela, mas não a conseguir apanhar nem com o maior esforço do mundo?
E jogar e perder, mas perder sem jogar?
É possível…
E a harmonia de um beijo em que se dá, mas não se recebe…?
E escrever e não fazer sentido, mas fazer sentido o que se vive sem escrever?
E olhar pela janela e sorrir porque se sentiu um olhar longínquo, mas olhar o olhar longínquo sem sentir e muito menos sorrir?
E tomar decisões e sentir-se orgulhoso de si próprio, mas sentir-se orgulhoso sem ter tomado decisões?
E comprar um relógio para não se sentir perdido, mas sentir-se perdido mesmo com um relógio?
E desejar que a vida lhe corra bem, mas a vida corre à sua frente e você nem tempo tem para desejar?
Se isto fosse tudo tão simples, não estaria aqui a escrever.
Estaria, certamente, no meu sonho desta noite.
“Melhor não há do que a condição de querer sonhar…”
E se todos soubéssemos os pensamentos, ninguém andava triste, mas todos ficam tristes quando os sabem…
É melhor isto ficar, mesmo, assim…
E por medo, vou continuar a fugir, de mais uns anos de felicidade.
Por medo…