sábado, agosto 12, 2006

Untitled

“Isto poderia ser mais uma carta, mas não é mais uma, é A Carta. Não sei se me estou fazer entender. Eu sei que não tenho consigo aquela confiança que seria natural ter, nem tão pouco aquela rebuscada e complexa situação emocional que nós os dois sentimos: você e eu. Até porque esta forma, o você, o senhor, aquela pessoa, uso-as como respeito. Mas como poderei eu ter respeito? Até que não seria de esperar que eu o tratasse como o filho da mãe que decidiu ir tirar uns dias de férias e nunca mais voltou.

Forma estranha esta de agir, forma estranha a cabeça dos homens. Sempre que me pus a pensar no que pensava, cheguei a diversas conclusões, mas venha o diabo e escolha, porque eu? Eu? A realidade é que eu não consigo. Quando era mais nova e pensava nos homens, bolas os homens, que fascínio, eram mesmo aqueles heróis, não eram bem heróis, eram mais uns heróis que me iriam ajudar, que ajudam as mulheres, que as ajudam a pôr de parte a sua simples e ingénua personalidade, para as tornarem perfeitas! Isso perfeitas! Para as tornarem o centro de todas as atenções devido à beleza, inteligência, adaptação e até mesmo desejo. Incrível como mais tarde percebi que o homem não tinha nada a ver com isto, o homem, o homem. E você é homem. Sabe? Independentemente de tudo, da desilusão que tive quando me tornei uma senhora, você é o meu herói. Eu sei que isto que aqui escrevo, os seus olhos nunca vão ter o prazer ou (des)prazer de ler, até porque não faço ideia onde você esteja, mas o meu coração precisava de escrever, e só o simples facto de escrever sobre si deixa-me com alguma serenidade. Já pensou? Você deixou-me mesmo sozinha, sem um único pedaço de conforto, sem um único pedaço de gente.

Ainda em relação aos homens e neste caso a você, porque é que é tão… como hei-de lhe dizer… inútil? Não, não. Porque é que é tão sem sentimentos, não encontro as palavras certas em mim. Numa coisa rebuscada, eu diria que você é uma árvore que cresceu sem ter a necessidade de fazer nascer a flor, para mais tarde nascer o fruto. Porque você está vivo e rejeita o facto de ter que dar para receber. Percebe? A isto as pessoas neste mundo, neste onde eu vivo, chamam de egoísmo.

A mente dos homens é simples demais, sabe? Se a da mulher é complicada, a dos homens é simples demais, e é nesta junção que eu vejo a tal perfeição. Mas você, você, é tão simples, tão simples que não tem nada. Mas eu gosto de si assim, eu gosto de si. Faço um esforço enorme para não pensar, porque o que me fez, eu não iria fazer a ninguém, mas foi a sua decisão e eu, por incrível que pareça, respeito-a. Só quero vê-lo brilhar, só quero vê-lo brilhar, e nunca, mas nunca, se esqueça que você tem um lugar especial na minha árvore, aquela que eu todos os dias luto para que dê as melhores flores e os frutos mais bonitos do mundo, um esforço que eu faço… dedicado a si.”